A Mulher do Fluxo de Sangue – Estudo Completo
A mulher do fluxo de sangue, história exposta nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, retrata um acontecimento que, embora tenha rapidamente se passado entre duas curas, nos presenteia com detalhes muito importantes sobre o poder de Jesus Cristo e Seu desejo de revolucionar a compreensão do divino.
Essa mulher não foi identificada. Acabou sendo mais conhecida por sua doença, bem como por seu insucesso em encontrar solução pelos recursos humanos.
Porém, ao observarmos sua história, verificaremos que, na realidade, tratava-se de uma pessoa inconformada. Sua atitude, mesmo após anos de tentativas infrutíferas, nos dá um belo testemunho de perseverança.
Jesus, em Sua infinita sabedoria e bondade, não deixou que este acontecimento passasse despercebido e, ainda, revelou um pouco mais de Sua graça transformadora.
Todas as questões cerimoniais, a partir de Jesus, já não fariam mais sentido, vez que Ele seria o sacrifício suficiente para remir os pecados da humanidade.
O homem seria levado a compreender, através desta e outras histórias, que, a despeito do que vinha crendo, o que realmente poderia contaminá-lo era aquilo que procedia de seu coração. A nova aliança aperfeiçoaria a antiga. Era chegado o tempo da graça.
A história bíblica da cura da mulher do fluxo de sangue
Os evangelhos, acima já mencionados, contam a história da cura de uma mulher que sofria de uma hemorragia crônica. É narrado que, além de sofrer há anos com aquela terrível doença, não especificada, essa mulher, ainda por cima, se encontrava em situação de total desvanecimento financeiro, pois havia vendido tudo que possuía para tentar encontrar sua cura, sem, no entanto, ter obtido êxito.
Sua história se passa entre dois acontecimentos. Após libertar um gasareno, de espíritos imundos, Jesus retorna para a cidade, que não é identificada, mas, possivelmente, se tratava de Cafarnaum. Logo que chega, é recepcionado por uma multidão.
Jairo, chefe da sinagoga, suplica a ajuda de Jesus, vez que sua filha se encontrava desfalecida em sua casa. Enquanto Jesus se desloca para a casa de Jairo, foi que a cura desta mulher aconteceu.
É neste ínterim que ela observa uma oportunidade. Ela creu que um simples toque na orla das vestes de Jesus poderia curá-la. Sem dúvidas, para alguém com este nível de fé, a atenção do mestre deveria ser algo muito desejado, mas as circunstâncias não permitiam e ela não poderia esperar.
Neste ponto, é importante lembrarmos que a Lei mosaica considerava imunda qualquer mulher que se encontrasse em fluxo sanguíneo. No entanto, a bíblia expõe que ela simplesmente veio por trás de Jesus e tocou em suas vestes e, na mesma hora, sentiu que sua hemorragia fora estancada.
Jesus, então, faz questão de que aquela pessoa que o havia tocado se manifestasse. A bíblia conta que ele insistiu. A mulher, então, trêmula, se prostra e declara a razão pela qual havia tocado em Jesus. Para a sua surpresa, Ele a chama de filha e informa que a fé dela a havia salvo, a despedindo em paz.
Considerações sobre a doença
A bíblia não fala qual era a razão do fluxo sanguíneo daquela mulher. É bem provável que nem mesmo ela soubesse.
A medicina da época não contava com toda tecnologia atual. Basta uma simples pesquisa para constatarmos que as causas para uma hemorragia ginecológica necessitam de mais que meras análises clínicas.
As causas podem ser detectáveis por meio de exames laboratoriais ou de imagem, o que não existia naquele contexto. Ademais, mesmo com toda a atual tecnologia, é possível que não se identifique a causa deste descontrolado crescimento do revestimento uterino.
Embora não se saiba exatamente do que se tratava, as possíveis causas para uma hemorragia como esta podem ser câncer, alterações no útero, como pólipos uterinos, miomas ou, ainda, problemas hormonais, infecções, entre muitas outras doenças.
Independente de qual fosse, não fica difícil concluirmos os principais sintomas e sequelas gerados pela hemorragia crônica, sendo uma provável anemia, devido a perda de sangue excessiva, o que, automaticamente, gera perda de ferro e de hemoglobina, o que pode gerar palidez, tonturas, dores de cabeça, perda capilar, falta de apetite, febre, dor nas partes íntimas, etc.
Os tratamentos existentes para as diversas possibilidades vão desde a utilização de remédios antibióticos ou, ainda, contraceptivos e suplementos, até histerectomia, para casos mais graves que necessitem da total remoção uterina.
Possíveis maiores desafios contextuais
Somente o fato de ser mulher, nos tempos antigos, já era uma situação considerada desfavorável. A mulher não gerava riquezas. O trabalho braçal era árduo. Enquanto homem significava provisão, mulher significava dependência.
O que dizer, então, de uma mulher, pobre, com uma doença prevista em lei como algo que tornava as pessoas imundas, bem como tudo aquilo que elas tocassem?
Conforme mencionamos, segundo a lei mosaica, existiam algumas circunstâncias que tornavam as pessoas imundas, gerando impedimentos cerimoniais. Os fluxos corporais foram incluídos na lista de impedimentos (Levíticos 15:25).
Quando a mulher manava fluxo, para além do período menstrual, era considerada imunda todos os dias em que estivesse naquela condição e, onde ela se deitasse e sentasse, seria imundo, assim como quem a tocasse.
Deste modo, podemos concluir que, faziam doze anos que esta mulher estava “inserida” numa sociedade que a enxergava com total negatividade. Na verdade, esta mulher vivia marginalizada.
Há anos não podia adorar ao Senhor no templo, tampouco conviver, normalmente, com quem quer que seja. Não existiam mais recursos financeiros, tampouco humanos, para ajudá-la. Ela precisava de um milagre!
O toque de fé
Após a mulher ter se apresentado, ela se prostra aos pés de Jesus. Ele a chama de filha e a diz que a fé que ela possuía a havia salvo.
Nesta passagem, ainda, é narrado que a multidão comprimia o mestre, mas o toque desta mulher foi diferente. Quando ela o tocou, dele saiu poder.
Essa mulher jamais se conformou com sua situação. Mesmo há anos sem encontrar solução, ela desejava a cura.
O que diferenciou o toque desta mulher dos vários toques que Jesus havia recebido fora sua fé. O toque de fé a levou a extrair o poder transformador e restaurados de Cristo.
Jesus é admirado e seguido por muitos, entretanto, poucos o tocam com fé, de modo a acessar a transformação que Ele tem poder para realizar.
Por que não dizer que Cristo, portanto, mesmo nos nossos dias, continua sendo apenas comprido por uma multidão? Ele está acessível a todos, mas nem todos o tocam com fé.
É bem verdade que muitos comprimem Jesus sem compreender por que o fazem. São meros curiosos. Há muitos que sequer compreendem o Seu poder.
Há muitos que sequer reconhecem o quanto necessitam toca-lo com fé. Muitos são só parte da multidão e estão ali o observando e se admirando com o que Ele opera nos demais.
Tocar em Jesus, com fé e ser tocado por Seu poder, exige que haja o desejo de deixar aquilo que nos torna impuros. Tocar Jesus, com fé, exige a ousadia de não se importar com o que a sociedade poderá pensar.
Tocar, com fé, em Jesus, sem dúvidas, nos torna mais íntimos Dele e nos coloca prostrados a Seus pés. Após tocar, com fé, em Jesus, passaremos a ouvir Sua doce voz e, além de sabermos que fomos curados, saberemos quem somos.
O toque de Jesus
Jesus combateu fortemente o sistema político e religioso de sua época. Seu problema não era a Lei, a qual, segundo Ele mesmo, foi integralmente cumprida em Seu ministério.
Alguns séculos antes de Cristo, surgiram os fariseus, os quais se denominavam mestres da Lei. Eram homens que se dedicavam a seguir não apenas a Lei, mas as tradições humanas que, ao ver deles, de igual modo, procediam da parte de Deus.
Para aquela sociedade, se existia alguém que cumpria os preceitos divinos corretamente, sem dúvidas, era um fariseu.
Jesus, no entanto, repreendeu a hipocrisia farisaica reiteradamente em seu ministério. Ele aduziu que as tradições humanas, que eles julgavam ser sagradas, na verdade, eram incompatíveis com a vontade de Deus, transmitida em Sua Lei (Mateus 15:3-6).
Os religiosos passaram a deturpar a real intenção divina, criando um sistema opressor. Se a Lei previa algo, eles, então, criavam regras ainda mais duras, na tentativa de tornar ainda mais difícil transgredir os princípios divinos. Por fim eles criaram grilhões e morte, enquanto o Senhor desejava liberdade e vida.
Considerando isso, podemos compreender a razão pela qual Jesus insiste para que aquela mulher tornasse público que havia o tocado.
Quando Jesus não a repreende por tê-lo tocado, mesmo com aquela impureza, Ele ensina a todos sobre o reino de Deus, sobre amor, sobre refrigério, sobre tomar fardos pesados, à revelia do que a religião estava fazendo. Ele manifesta a face da graça que sobrevinha aos homens.
A intenção da Lei nunca fora gerar exclusão. A Lei apresentava aos homens a vontade do Senhor. Os impedimentos cerimoniais revelavam um conceito de puro e impuro, daquilo que gerava separação da presença de Deus.
Então, Jesus, também, ensina, com esta cura, que Ele veio retirar toda impureza. O homem seria reconciliado, através do sacrifício do Messias.
Sobre o Autor
0 Comentários