1 Samuel 20 Estudo: Amizade
Neste capítulo de 1 Samuel 20 Davi expõe a Jônatas que seu pai o intentava matar e, junto, então, planejam uma forma de Jonatas descobrir se, realmente, Saul planejava contra a vida de Davi.
No dia seguinte, seria a festa da Lua Nova, então, Davi não participaria, de modo que Saul notaria sua falta.
Jonatas ficaria responsável por informar que havia liberado Davi de participar do banquete da referida festa, para sacrificar em Belém.
Então, ele comunicaria Davi, que estaria escondido no campo, qual fora a reação de Saul e se ele deveria, realmente, fugir.
Chegando o dia da festa, Jonatas faz exatamente conforme o combinado, de modo que Saul, ao ser informado que Davi fora liberado a sacrificar em Belém, se ira contra Jônatas e atira sua lança, contra ele, para feri-lo.
Assim, ele muito se entristece por Davi. Deste modo, conforme planejado, ele executa o plano a fim de informar Davi sobre o ocorrido. Após, vindo a se encontrarem, se despedem.
1 Samuel 20 estudo: Contexto histórico
Saul torna a falar sobre matar a Davi. Jônatas, então, intercede por ele a seu pai, o qual o ouve. Contudo, após, vemos que, quando Davi derrota os filisteus, Saul intenta mata-lo, de modo que Mical, o ajuda a fugir.
Davi foge para junto de Samuel, o qual o leva até a casa dos profetas. Saul manda mensageiros para capturar Davi, contudo, todos os mensageiros que mandou foram tomados pelo Espírito do Senhor e começavam a profetizar.
Logo, o próprio Saul foi atrás de Davi, porém, de igual forma, o Espírito de Deus o tomou e este passou a profetizar nu, perante Samuel.
(1 Samuel 20:1) Davi procura Jônatas
v. 1 E Davi fugiu de Naiote, em Ramá, e veio, e disse diante de Jônatas: O que eu fiz? Qual é a minha iniquidade? E qual é o meu pecado diante do teu pai para que ele busque a minha vida?
Davi foi falar com Jônatas, provavelmente num local secreto porque os homens de Saul estariam à espreita de Davi nas imediações de Gibeá.
(1 Samuel 20:2) Jônatas desconhece a intenção de Saul
v. 2 E ele lhe disse: Deus o livre, tu não morrerás; eis que o meu pai não fará qualquer coisa grande ou pequena, mas isto ele me mostrará; e por que o meu pai esconderia esta coisa de mim? Não é assim.
Jônatas garantiu a Davi que, como o filho mais velho e comandante do exército, ele sabia de tudo, seja importante ou não, que seu pai planejava. Ele não cria que Saul esconderia esta coisa ou qualquer outro assunto dele.
(1 Samuel 20:3) Davi argumenta
v. 3 E Davi também jurou e disse: O teu pai certamente sabe que encontrei graça em teus olhos; e ele disse: Que Jônatas não saiba disso, para que não esteja aflito; mas, verdadeiramente, como vive o SENHOR, e como vive a tua alma, não há nada além de um passo entre mim e a morte.
No entanto, Davi tinha uma compreensão mais aguçada da situação. Saul sabia a respeito do pacto de amizade entre Davi e Jônatas.
Davi suspeitava que o rei não desejava que Jônatas viesse a ficar aflito com o conflito entre ele e Davi, embora no final Jônatas se entristeceu (v. 34).
Além disso, Davi sabia que ele estava potencialmente próximo da morte se Saul conseguisse capturá-lo.
(1 Samuel 20:5) O plano de Davi
v. 5 E Davi disse a Jônatas: Eis que amanhã é lua nova, e eu não devo falhar em me assentar com o rei na refeição; mas deixa-me ir, para que eu possa me esconder no campo até o anoitecer do terceiro dia.
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A lua nova se refere a uma festa mensal (Nm 28:11-15) comemorada com o toque de cornetas (Nm 10:10).
Davi sabia que Saul esperava que ele comparecesse ao jantar, mas ele não queria arriscar a vida indo ao palácio senão após saber das intenções de Saul.
(1 Samuel 20:6) A história a ser contada
v. 6 Se o teu pai sentir mesmo a minha falta, então diz: Davi muito seriamente me pediu para sair para que pudesse correr até Belém, sua cidade; pois há lá um sacrifício anual para toda a família.
Jônatas esclareceria a seu pai a razão da ausência de Davi, no caso de Saul perguntar a respeito dele.
O sacrifício anual a que Jônatas se referia poderia ter sido um algum tipo de oferta que toda a família se propusera a oferecer.
(1 Samuel 20:7) O teste
v. 7 Se ele disser assim: Está bem; o teu servo terá paz; mas se ele ficar muito nervoso, então esteja certo de que o mal está determinado por ele.
Davi confiou que Deus podia revelar o coração de Saul através da resposta do rei às palavras de Jônatas.
(1 Samuel 20:8) O pacto de Jônatas
v. 8 Portanto, tratarás com bondade o teu servo; pois trouxeste o teu servo a um pacto do SENHOR contigo; não obstante, se em mim houver iniquidade, mata-me tu mesmo; afinal por que deverias tu me levar ao teu pai?
Davi lembrou a Jônatas o pacto que ambos tinham feito perante o SENHOR. O ardente pedido de Davi se em mim houver iniquidade, mata-me tu mesmo revelava a intensidade de seu desejo por integridade.
(1 Samuel 20:9) Jônatas demonstra fidelidade
v. 9 E Jônatas disse: Longe esteja isto de ti; pois se eu soubesse com certeza que o mal estava determinado pelo meu pai sobre ti, não te diria eu?
O texto enfatiza a lealdade de Jônatas ao seu amigo Davi a despeito do fato de que, com Davi morto, Jônatas muito provavelmente sucederia a Saul como rei.
(1 Samuel 20:11) Jônatas e Davi vão ao campo
v. 11 E Jônatas disse a Davi: Vem e saiamos ao campo. E saíram ambos ao campo.
Os dois homens provavelmente saíram ao campo para que ninguém ouvisse o seu plano.
(1 Samuel 20:12-13) A promessa de Jônatas
v. 12 E Jônatas disse a Davi: Ó SENHOR Deus de Israel, quando eu tiver sondado o meu pai a este respeito, amanhã, a qualquer hora, ou no terceiro dia, e eis que se houver bem para com Davi, e eu não to enviar, e to mostrar;
v. 13 que o SENHOR assim o faça e muito mais a Jônatas; mas se aprouver ao meu pai fazer-te o mal, então eu to mostrarei, e te mandarei embora, para que possas ir em paz; e o SENHOR esteja contigo, como tem estado com o meu pai.
Jônatas fez um juramento e invocou o castigo de Deus sobre si caso ele não relatasse a Davi tudo o que Saul pretendia fazer.
As palavras da bênção de Jônatas: O SENHOR esteja contigo, afirma aquilo que o texto tem revelado – que Deus estava com Davi (1Sm 16:13).
As palavras de Jônatas como tem estado com o meu pai sugerem que ele sabia que o Espírito do Senhor se afastara de Saul.
(1 Samuel 20:15) O pedido de Jônatas
v. 15 como também não cortarás a tua bondade da minha casa para todo o sempre; não, nem quando o SENHOR tiver cortado os inimigos de Davi, cada um deles, da face da terra.
Jônatas pediu a Davi que nunca deixasse de ser leal com a sua família. Muitos novos reis ordenam a morte da família do rei anterior para eliminar competidores ao trono.
O Senhor podia julgar todos os inimigos de Davi, mas Davi não tinha o que temer da parte de Jônatas. Após a morte de Jônatas, Davi honrou o pedido de Jônatas (2Sm 9).
(1 Samuel 20:16) Jônatas faz um novo pacto
v. 16 Assim, Jônatas fez um pacto com a casa de Davi, dizendo: Que o SENHOR até mesmo isto requeira da mão dos inimigos de Davi.
Jônatas estabeleceu ali um pacto com a casa de Davi, não apenas com Davi. O próprio Deus responsabilizaria os inimigos de Davi por suas ações contra o Seu servo escolhido.
(1 Samuel 20:17) O amor de Jônatas
v. 17 E Jônatas fez com que Davi jurasse novamente, porque o amava; pois ele o amava como amava a sua própria alma.
Sobre ele o amava como amava a sua própria alma, ver nota em 1Sm 18:1.
(1 Samuel 20:19) Etapas do plano
v. 19 E quando tiveres permanecido por três dias, então descerás rapidamente, e virás ao lugar onde te escondias quando o negócio estava à mão, e permanecerás junto à pedra de Ezel.
A palavra hebraica traduzida como pedra também significa “rocha”, no entanto, Ezel, embora desconhecida à parte deste versículo, era grande o suficiente para ser conhecida e para ter o seu próprio nome.
(1 Samuel 20:21-22) O código proposto por Jônatas
v. 21 E eis que te enviarei um jovem, dizendo: Vai e encontra as flechas. Se eu disser expressamente ao jovem: Eis que as flechas estão neste teu lado, apanha-as; depois vem; pois há paz para ti, e nenhuma ferida; como vive o SENHOR.
v. 22 Mas se eu disser isto ao jovem: Eis que as flechas estão além de ti; segue o teu caminho; pois o SENHOR te mandou embora.
Jônatas propôs uma linguagem em código para alertar Davi a respeito das intenções de Saul. Se Jônatas chamasse o jovem mais para cá em sua direção para recuperar as três flechas estaria indicando que tudo estava seguro.
Se lhe dissesse para procurar as flechas mais para lá estaria indicando que Davi deveria fugir imediatamente.
(1 Samuel 20:23) Deus como testemunha
v. 23 E no tocante à questão que tu e eu falamos, que o SENHOR esteja entre mim e ti para sempre.
Jônatas invocou a supervisão do Senhor para o acordo entre ele e Davi e para o relacionamento de ambos 1Sm 20:25.
O assento de Saul junto à parede oferecia maior segurança, uma vez que ninguém podia se aproximar dele pelas costas.
(1 Samuel 20:26) O primeiro dia da festa
v. 26 Todavia Saul nada falou naquele dia, pois pensou: Algo lhe sobreveio, ele não está limpo; seguramente ele não está limpo.
A conjectura de Saul de que Davi estivesse seguramente ele não está limpo baseava-se em seu conhecimento da fé de Davi, que o teria impedido de participar do jantar (Lv 7:20-21).
(1 Samuel 20:27) A desconfiança de Saul
v. 27 E sucedeu, pela manhã, o segundo dia do mês, que o lugar de Davi estava vago; e Saul disse a Jônatas, seu filho: Por que não veio o filho de Jessé comer, nem ontem, nem hoje?
Saul ficou desconfiado no dia seguinte, quando a impureza não mais seria um motivo para a ausência de Davi.
(1 Samuel 20:28-29) A explicação de Jônatas
v. 28 E Jônatas respondeu a Saul: Davi me pediu seriamente para ir a Belém;
v. 29 e ele disse: Deixa-me ir, rogo-te; pois a nossa família tem um sacrifício na cidade; e o meu irmão, ele me ordenou a ir para lá; e, agora, se tenho achado favor aos teus olhos, deixa-me partir, rogo-te, para ver os meus irmãos. Por isso não vem ele à mesa do rei.
Jônatas explicou a ausência de Davi conforme o que eles haviam combinado a respeito (v. 6).
(1 Samuel 20:30) Saul fica irado
v. 30 Então, a ira de Saul acendeu-se contra Jônatas, e ele lhe disse: Tu, filho da mulher rebelde pervertida, não sei eu que escolheste o filho de Jessé para a tua própria confusão, e para a confusão da nudez da tua mãe?
As palavras de Saul: Filho da mulher rebelde pervertida! eram um insulto a Jônatas mediante a difamação do caráter de sua mãe Ainoã (1Sm 14:50).
(1 Samuel 20:31) Saul expõe seu temor
v. 31 Pois, enquanto viver o filho de Jessé sobre o chão, tu não serás estabelecido, nem o teu reino. Por isso, agora, manda apanhá-lo para mim, pois ele certamente morrerá.
A referência a seu reino revela que ele pretendia que Jônatas o sucedesse, apesar do pronunciamento de Samuel contrário a sua casa (1Sm 13:13-14).
Manda apanhá-lo para mim indicou que Saul acreditava que Jônatas sabia do paradeiro de Davi.
(1 Samuel 20:32) Jônatas argumenta com Saul
v. 32 E Jônatas respondeu a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que ele deve ser morto? O que fez ele?
Jônatas se preocupava com a justiça, e não com o ganho pessoal que seu pai sugeriu que estaria reservado para ele. Ele mostraria lealdade a Davi, qualquer que fosse a situação.
(1 Samuel 20:33) Saul atira um dardo
v. 33 E Saul atirou um dardo contra ele para atingi-lo; pelo que Jônatas soube que seu pai estava determinado a matar Davi.
Saul atirou um dardo contra … Jônatas porque ele se colocou ao lado do inimigo do rei.
(1 Samuel 20:34) Jônatas fica irado
v. 34 Assim, Jônatas se levantou da mesa mui irado, e não comeu carne no segundo dia do mês; pois estava aflito por Davi, porque o seu pai lhe havia feito vergonha.
Jônatas estava irado e triste com o que havia acontecido. O fato de seu pai haver humilhado Davi foi o que doeu em Jônatas, mais do que ter de se esquivar do dardo de seu pai.
(1 Samuel 20:37-38) Jônatas utiliza do código de linguagem
v. 37 E quando o jovem havia chegado ao lugar da flecha que Jônatas havia atirado, Jônatas gritou ao jovem, e disse: Não está a flecha além de ti?
v. 38 E Jônatas gritou para o jovem: Apressa-te, rápido, não te detenhas. E o jovem de Jônatas apanhou as flechas, e veio ao seu senhor.
As palavra de Jônatas: Não está a flecha além de ti? indicavam problemas para Davi (v. 22). Ele sabia que Davi precisava fugir o mais rápido possível.
(1 Samuel 20:40) Jônatas manda o jovem retornar
v. 40 E Jônatas deu a sua artilharia ao seu jovem, e lhe disse: Vai, leva-os até a cidade.
Embora o sinal em código já tivesse sido dado e Jônatas pudesse ir embora, é possível que ele não suportou partir sem primeiro conversar com Davi, por essa razão ele despediu o jovem.
O anseio por uma despedida pessoal os levou a abandonar a cautela que seu sistema de sinais lhes fornecia.
(1 Samuel 20:41) Davi e Jônatas se despedem
v. 41 E assim que o jovem se foi, Davi se levantou de um lugar em direção ao sul, e caiu sobre a sua face em terra, e se curvou três vezes; e eles se beijaram, e choraram juntos, até Davi se exceder.
A posição de Davi revela que a pedra de Ezel provavelmente ficava ao sul de Gibea, de modo que, ao sairem ao campo, Jônatas e seu servo não o veriam imediatamente.
Davi se curvou três vezes como sinal do seu respeito e admiração por Jônatas, e eles beijaram um ao outro – um sinal comum de saudação e despedida entre bons amigos naquela cultura.
Eles choraram porque ambos sentiam que talvez não mais se veriam novamente.
(1 Samuel 20:42) Jônatas abençoa a Davi
v. 42 E Jônatas disse a Davi: Vai em paz, porquanto nós dois juramos em nome do SENHOR, dizendo: O SENHOR esteja entre mim e ti, e entre a minha semente e a tua semente para sempre. E ele se levantou e partiu; e Jônatas entrou na cidade.
Vai em paz; Jônatas podia dizer isso a Davi em razão do que eles prometeram em nome do Senhor – com Sua autoridade e’tendo Ele como testemunha.
Os dois sempre seriam amigos, e eles fariam tudo o que pudessem para garantir que sua amizade se estendesse a sua semente.
Então, Davi partiu em direção ao sul (1Sm 21:1), enquanto Jônatas voltou à cidade, onde em breve teria de encarar seu pai outra vez.
Conclusão
Neste capítulo temos um melhor vislumbre da amizade existente entre Davi e Jônatas, a qual, conforme aduzimos anteriormente, consistia em algo profundo e deu origem a uma aliança, um compromisso de proteção mútua.
Também já aduzimos que esta amizade gerou muita interpretação equivocada, em decorrência da exposição bíblia dos sentimentos de Jônatas, utilizando-se dos termos “ligação de alma”, “amor”, entre outros.
O fato é que as escrituras expõem uma amizade inequívoca, a ponto de ambos se comprometerem, fortemente, um com o outro.
Neste momento, Davi recorre a aliança que Jônatas fizera, outrora, rogando, ao amigo, por ajuda (verso oito), o que reforça, ainda mais, o fato de que esta amizade consistia num compromisso que transcendia a mera troca de afeto.
Nos dias atuais, em contexto e cultura totalmente diferentes, é compreensível que cause certa estranheza este tipo de amizade, visto que vivemos numa sociedade em que ideologias são disseminadas a todo custo.
O intenso ataque e relativização do masculino e do feminino faz com que tudo sirva de pretexto para validar o discurso.
Não é estranho que, por conta disso, homens, na busca de não serem mal interpretados, procurem restringir certas demonstrações de afeto a amigos homens.
Outrossim, o individualismo contemporâneo, onde estamos mais “conectados” virtualmente que fisicamente, dificulta que se vislumbre com naturalidade um pacto de proteção e lealdade entre dois amigos.
Por isso, o leitor deve levar em consideração os textos bíblicos e seu contexto para que não desvie sua atenção das ricas lições a serem obtidas com a história.
As escrituras nos ensinam que amizade é algo importante e necessário para que o homem vá bem! Aprendemos nelas que, com amigos, somos mais prósperos, por poder produzir mais e, ainda, temos suporte em momentos difíceis (Eclesiastes 4:9-10).
Esta relação não substitui e tampouco é substituída pelo relacionamento conjugal. Outrossim, na comunhão o Senhor ordena Suas bênçãos (Salmo 133:1-3).
Como são abençoados aqueles que possuem uma família, porém, aqueles que aprendem a cultivar amigos, jamais conhecerão a solidão.
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